Dodô é um espectáculo sobre a aprendizagem, uma reflexão ecológica, um acto da imaginação.
Sobre a aprendizagem porque o protagonista da peça, o menino, vai descobrindo ao longo da sua aventura, meio real, meio sonhada, que por vezes não é por uma coisa ter um nome que a revela que esse nome seja o que diz: assim Dôdo, o pássaro, passa a Dôdo, a cerveja. E o nome pode, nesta sociedade de negócios, até ser outra coisa qualquer.
Até ao final da peça vai aprendendo muito mais: que é preciso saber ler e até conhecer outras línguas; que um pequeno roubo na casa de uma certa senhora é um grande crime e como os dodôs desapareceram da face da terra e regressaram de muitas outras formas.
Este desaparecimento conta-nos a história de como os incautos dodôs não sobreviveram à convivência com a espécie humana. Eles que eram pacíficos e segundo os registos culinários da época nem eram assim tão saborosos para os marinheiros com os quais se cruzaram sucumbiram à fome destes.
Neste ano de 2010, ano internacional da biodiversidade, nada mais apropriado do que recordar como a presença e os interesses dos homens continuam a interferir de maneira irresponsável na vida de tantas espécies animais por todo o planeta.
E é sobre a imaginação porque tudo é observado pelo olhar de uma criança, naquela idade em que se imagina mais do aquilo que se conhece do mundo. Um pouco entre a Alice de Lewis Carrol e o Calvin de Bill Waterson, se por um lado estão presentes as peripécias dignas de um País das Maravilhas, com a sua poesia onírica e personagens bizarras, por outro está um menino e a sua capacidade de ver o mundo à sua maneira, colorindo-o através das suas surpreendentes e constantes descobertas.
Dôdo é uma experiência iniciática, um modo de revelar o mundo através do olhar inocente de uma criança, olhar esse que, ingénuo, se converte num mecanismo de explicitação do que é desconforme e mesmo assassino no comportamento humano.
Dodô – No rasto do pássaro do sono quer mais do que “sensibilizar” ou “alertar” para as consequências da intromissão da mão humana na natureza, quer despertar o interesse e as ideias dos seus jovens espectadores, e quer que estes depois de acompanharem a aventura do menino em busca do dodô, procurem saber mais sobre o pássaro que se tornou no símbolo das espécies desaparecidas devido à convivência com o homem.
Sem quaisquer pretensões a uma suposta obrigatória e bem comportada mensagem ecológica que os meninos e meninas terão de retirar do espectáculo, Dodô é um espectáculo que não infantiliza os seus principais espectadores, e que propõe aos seus espectadores que se divirtam eque levem para casa as imagens e palavras que viram como potenciais outros mundos nos quais os limites sejam apenas os da sua imaginação.
Juntem-se, pois, a nós, nesta viagem no rasto do pássaro do sono.
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